10/02/2011

Esperando no bar

Estávamos voltando para casa quando ela resolveu passar no mercado. Algumas compras eram necessárias e até mesmo urgentes, insistia. Eu estava de mal humor e disse que esperaria no bar da frente. Em pé ao balcão beberia cerveja gelada, talvez comesse um pastel frio. Nosso amor já durava oito anos e era desesperador que ninguém decretasse seu fim. Ainda a avistei saindo com duas sacolas tentando se equilibrar como uma balança. Não me mexi para ajudar e esperaria que ela atravessasse a rua para tomar qualquer atitude. Estava cansado e a cerveja gelada ainda por acabar. Ela atravessava a rua meio sem jeito quando a sacola rompeu. Antes mesmo de entender o que tinha rolado no chão, um carro a atropelou. Seu couro cabeludo voou como um escalpo depois da sua cabeça arrastar no chão. Só depois consegui ver as latas de Coca Zero sambando no asfalto até o meio-fio. Aquilo não era tão necessário que justificasse a ida ao mercado.

Um comentário:

  1. Gosto especialmente desse.
    Me faz pensar como talvez o supermercado fosse o único espaço onde ela conseguisse se ver livre do narrador, e qualquer pretexto lhe serviria, inclusive o refrigerante zero, em lata (que cena ótima!).

    E que morrer atropelada, antes de encontrar o bebedor de cerveja, talvez lhe tenha sido um grande alívio.

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