22/03/2011

Se não doesse tanto

Ela entrou no quarto e meu viu. Estava me masturbando em pé com o som tocando Belle e Sebastian tocando nas alturas. Parecia uma dança de apelo erótico mal sucedida aquele contorcionismo que eu estava fazendo.

Enquanto tentava me recompor, ela mexia calmamente em sua pequena bolsa. De lá sacou uma pequena pistola Beretta 950 B, calibre 6,35. Tão coisa de mulher como baton ou menstruação.

Tentei tabar o buraco que jorrava sangue como um chafariz. Minhas mãos ficaram imundas e esparramei o fluído pelo meu rosto como uma máscara. Rolei no chão como um epilético babando meu prório sangue e sujando todo o carpete. O desenho no chão era engraçado e quase dá vontade de rir. Se não doesse tanto.

Um tiro logo no fêmur, bem no fêmur, que junto com o coração é o lugar onde mais dói.

21/03/2011

O anel de noivado

Presenteei meu amor com um anel de noivado e um jantar para celebrarmos. O clima intimista e romântico era perfeito para eternizar aquele momento. Ela estava mais linda do que nunca e mal podia esperar para passar o resto dos meus dias ao seu lado. Foi quando ela tocou no assunto fatal. Que meu cachorro teria que ir morar em outro lugar que não com a gente. A comida quase voltou. Tive que pedir um momento para ir beber água, me recompor. Ela aceitou. Quando voltei, respirei fundo e disse que entendera sua posição e que o amor, acima de tudo, superaria esse episódio.

Sem me sentar ainda pedi que ela estendesse a mão para me passar algo. Com a mão direita em minha direção desci um machado afiado com toda força na altura do pulso dela. Seu rosto se desfigurou pálido e antes de entrar em choque, sem dar um grito, ela vomitou.

10/03/2011

Um presente para selar o amor

Estavam namorando há três meses. Não havia casal mais apaixonado do que aquele, justamente numa fase em que os dois começam a desabrochar, trocar intimidades e fazer com que um entre na vida do outro cada vez mais.

Encontraram por acaso um amigo dele na rua e as apresentações de praxe foram feitas. O amigo que sugerindo algum pretexto qualquer, o puxou para um canto e em tom grave o advertiu que estava namorando uma mulher gorda. O sujeito ficou desfigurado com aquela afirmação. Nunca passara isso pela sua cabeça. A declaração do amigo quase o derrubara no chão, mas se recompôs e seguiu em frente com a mulher amada. Em frente à vitrine de uma joalheria ofereceu-lhe uma gargantilha linda. Era uma extravagância, mas ele dizia que o amor fala mais alto nessas horas. A namorada ia trôpega pela rua, inebriada pela sensação de um romance perfeito.

Chegando em casa, pediu à amada que se sentasse pois gostaria de colocar-lhe o colar. Ela, risonha e suspirando, levantou o cabelo dos ombros. Foi quando ele veio com uma faca por trás rasgando-lhe a garganta de ponta a ponta. A camada de godura dela exigiu que o trabalho fosse repetido com mais força. A única coisa que conseguiu dizer foi um grunhido horrível enquanto o sangue jorrava espesso pela abertura na garganta. Ele pegou a caixa da jóia e arremessou no lixo com força e ódio.